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24 de Abril de 2024

Entenda a polêmica do fator previdenciário

Mudança no cálculo do fator previdenciário aprovada pelo Congresso permite que pessoas se aposentem mais cedo do que o Executivo gostaria

há 9 anos

Aposentados

Aposentados protestam na Praça da Sé, em São Paulo, em 2013, contra o fator previdenciário

O governo brasileiro tenta evitar que o ano termine novamente com um rombo nas contas públicas. Para isso, lançou um pacote de ajuste fiscal. Entre as metas, o Executivo propôs alterações no acesso a benefícios previdenciários, mas não esperava que o Congresso fosse aproveitar essa medida provisória para flexibilizar as regras da aposentadoria.

A polêmica emenda, acrescentada pela Câmara e aprovada na semana passada no Senado, flexibiliza o chamado fator previdenciário, que foi criado para desestimular a aposentadoria precoce ao reduzir o valor do benefício para quem se aposenta antes dos 60 anos de idade.

O Legislativo propôe modificações a essa regra, instituindo a fórmula 85/95. Ela prevê que uma pessoa pode receber o valor integral do benefício quando a soma de sua idade com o tempo de contribuição for igual a 85 para mulheres e a 95 para homens – obedecendo, porém, o teto de 4.663,75 reais da Previdência Social.

Com a alteração, uma mulher com 55 anos de idade e 30 de contribuição, por exemplo, passaria a receber aposentaria integral. O mesmo valeria para um homem com 60 anos de idade e 35 anos de contribuição. Atualmente, pelo cálculo do fator previdenciário, ambos teriam que trabalhar por mais tempo para ter acesso ao benefício sem descontos.

Para entrar em vigor, a nova fórmula ainda precisa ser aprovada pela presidente Dilma Rousseff. Mas a mudança não agradou ao governo. Com a flexibilização, a tendência é de aumento nos gastos com a previdência. O vice-presidente Michel Temer já afirmou que o Executivo irá apresentar uma proposta alternativa ao fator previdenciário.

A mudança no cálculo do fator previdenciário aprovada pelo Congresso não é controversa somente no governo. Analistas estão longe de ter uma opinião unânime sobre o assunto.

Para o economista Fabio Giambiagi, especialista em previdência social, a alteração é um retrocesso, tendo em vista que a população tende a ficar cada vez mais velha, e o número de aposentados deve aumentar entre 3,5% e 4% ao ano nas próximas duas décadas.

"Qualquer país responsável diante disso estaria discutindo regras para fazer com que as pessoas trabalhem mais. A realidade vai se encarregar de mostrar o equívoco da mudança", afirmou Giambiagi.

Já para o economista Eduardo Fagnani, da Unicamp, a alteração é positiva. "Ela corrige uma injustiça com as pessoas de mais baixa renda que têm sido penalizadas desde a criação do fator previdenciário", afirma o especialista.

Fagnani ressalta que, atualmente, pessoas que entram no mercado de trabalho aos 25 anos e completam 35 anos de contribuição aos 60 anos de idade têm um desconto bem menor no valor do benefício do que pessoas que começaram a trabalhar com 15 anos e somaram 35 anos de contribuição aos 55 anos de idade.

Criado em 1999, o fator previdenciário visava retardar pedidos de aposentadoria ao reduzir benefícios de quem se aposenta antes dos 60 anos para mulheres e dos 65 anos para homens. Essa fórmula é aplicada para calcular o valor de aposentadoria por tempo de contribuição, cujo pedido exige 35 anos de contribuição para homens e 30 anos para mulheres, independente da idade.

A medida pretendia reduzir a pressão na Previdência Social, pois já na década de 1990 o pagamento de benefícios ultrapassava a arrecadação. O déficit continuou a crescer e, em 2013, chegou a 51,3 bilhões de reais, um aumento de 14,8% em relação ao ano de 2012.

Além da aposentadoria por tempo de contribuição, há no Brasil a aposentadoria por idade mínima de 65 anos para homens e 60 anos para mulheres, no caso de trabalhadores urbanos, e 60 anos para homens e 55 anos para mulheres, no caso de trabalhadores rurais, além de um tempo mínimo de 15 anos de contribuição.

Com o envelhecimento da população brasileira e o aumento da expectativa de vida, que atualmente é de 74,9 anos – mas deve chegar a 80,7 anos até 2050 – a discussão sobre mudanças na aposentadoria vai além da alteração do fator previdenciário.

Giambiagi defende reformas para equilibrar a balança da previdência. Entre elas, estão a adoção de uma idade mínima para a concessão de aposentadorias e também a equalização por gênero, ou seja, igualar a diferença de idade para receber o benefício entre homens e mulheres.

Na Alemanha, por exemplo, a idade mínima para a concessão da aposentadoria é de 67 anos. Na Dinamarca e na Espanha, 65 anos; e na França, 62 anos.

Para o economista Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas, uma mudança na previdência precisa, em primeiro lugar, corrigir o valor do rendimento do FGTS – que atualmente é de 3% mais a taxa referencial, que não passa de 1% ao ano. "O rendimento do FGTS é negativo em termos reais, pois não paga nem a inflação. O ideal seria a manutenção do poder de compra e juros reais", disse.

Fagnani, porém, é contra uma reforma. Segundo o economista, as alterações feitas na década de 1990 já restringem suficientemente o acesso à previdência social, além de terem sido criados impostos para financiar a seguridade social. Ele sugere como alternativa melhorar as condições de vida da população, para que no futuro, as pessoas não dependem apenas do Estado com relação à aposentadoria.

Fonte: Carta Capital

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9 Comentários

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MENTIRA. Não existe déficit na Previdência Social, o que existe são ações que beneficiam parcelas da população e que NÃO deveriam recair sobre o INSS.Por exemplo: aposentadoria RURAL é um beneficio para aqueles que trabalharam na roça e NÃO contribuiram com o sistema, e que deveria ser pago pelo tesouro nacional. O Bolsa-família é outro exemplo de beneficio que DEVERIA ser pago pelo tesouro assim como o prêmio e aposentadoria, dado generosamente (pelo Lula) aos campeões mundiais de futebol das copas de 58,62 e 1970, mas que a conta também é empurrada para a Previdência Social.
Somente em 2014 o SUPERÁVIT da Previdência Social alcançou o montante de R$ 54 bilhões, mas o governo que arrecada MUITO e gasta mal,utiliza-se do dinheiro arrecadado pela Previdência para fechar suas contas (através da DRU).
Evidentemente que a expectativa de vida do brasileiro aumentou, mas a arrecadação também seguiu no mesmo ritmo, dai por que não se deve falar em déficit.
Enquanto o governo não empregar corretamente o dinheiro arrecadado com os impostos,diminuir os valores desviados com a corrupção, nossos governantes continuarão a jogar a culpa na parte fraca: "os trabalhadores". continuar lendo

Caro Levino, boa noite.
É bom lembrar, se fosse reduzido o número de Ministérios, acredito que essa conta já fechava. Faço votos que tenha excelente feriadão. continuar lendo

Obrigado sr.Pedro Nunes, desejo o mesmo ao sr. Isso seria bom que acontecesse, mas vejo com ressalvas se a pres. deseja diminuir o numero de ministérios, afinal trata-se de um enorme cabide de emprego não é mesmo?
A unica maneira de mudar-mos isso é indo para as ruas protestar, afinal eles (políticos) só ouvem nossa voz quando nos juntamos para combate-los.
Abçs.; continuar lendo

Levino, você "roubou" meus argumentos, e eu acrescentaria que até mesmo o LOAS foi previsto na CF para que os recursos fossem buscados no Orçamento da União oriundos de tributação. A contribuição ao INSS não é tributo, é uma contribuição previdenciária com caráter pessoal, ao contrário do que insiste em dizer o governo e alguns entendimentos jurisprudenciais. Se fosse uma contribuição com finalidade social ampla coletiva, a mesma não seria limitada a 10 salários contribuição. Ou seja, por que quem ganha 20, 50 salários mínimos ou mais, não contribui sobre esse valor para o INSS e só o faz até 4.660 reais? continuar lendo

Caro Eduardo dos Santos Martins, vc. está correto em seu argumento.Nós sabemos e MUITOS aposentados sabem que somos manipulados por parte da imprensa e o principal veiculo que "desinforma" é a rede globo.
Quando desvincularam do sal.minimo o aumento que cabe aos aposentados que recebem acima do minimo, o fizeram "unilateralmente", nenhum sindicato ou associação de defesa dos aposentados foi consultado,eu sempre me perguntei mas, e o direito adquirido daqueles que JÁ estavam aposentados e mesmo aqueles que JÁ contribuiam? Enviei um email ao então pres.do STF, ministro AYRES BRITO ,questionando se não teriamos nosso direito preservado? Resposta do ministro : "consulte um advogado".
Novamente enviei umj email perguntando, "quem melhor advogado que o presidente do STF ?" ele não mais me respondeu.
Veja vc., está parado na Câmara dos deputados o PL. 4434/2008 de autoria do Sen.Paulo Paim, que recompõe nossas perdas, hoje estimada em 80% mas os presidentes da Câmara não o colocam em votação.Precisamos nos unir, aposentados e trabalhadores (futuros aposentados) para EXIGIR do dep.Eduardo Cunha que coloque em votação esse PL.
Por falar nisso, onde estão os aposentados e trabalhadores que deveriam estar AQUI debatendo a Previdência Social?
Em outra noticia que questiona se JESUS era ou não Gay, todos estão lá debatendo, fazendo com que um assunto da maior importancia como esse da Previdência Social seja deixado de lado!
Abçs. continuar lendo

Alem de todos estes comentários feito por nosso colega, Levino também nossos políticos tem o dever de receber seu benefício pelo INSS, pois em que eles são diferente de nos, isso melhoraria em muito o problema da Previdência Social. continuar lendo

Certissino sr. Carlos. Todos os trabalhadores do Brasil (incluindo fun.publicos , políticos, juizes) deveriam ser inscritos na Previdência Social e aposentar-se com as MESMAS regras que são impostas a nós. Se fosse feito dessa forma, ninguém reclamaria e todos teriam os mesmos direitos e deveres, mas os nossos representantes (representantes?) se acham privilegiados,no fundo são mesmo e isso precisa ser mudado.Cabe a nós mudar o que está errado no nosso país.
Abçs. continuar lendo

Isso tudo foi gerado pelo governo do PSDB Fernando Henrique, PSDB que agora volta com Aecio Neves, e o povo acha que pode ser uma boa opção , isso num pais sem memória e um povo sem cultura.
Usar a Alemanha ou outro pais da Europa ou mesmo os Estados Unidos para justificar a idade mínima, e uma tremenda covardia ou falta de argumento convincente, pois se fazemos comparações temos que ver as condições de saúde, transporte, os impostos sobre os produtos que são pagos por esses trabalhadores, ai sim pode-se comparar, não pegar o que interessa no momento e usar como argumento.
Embora saiba que o povo nunca vai fazer nada que gere mudanças pois sempre esperou que os políticos façam, que pelo menos aprendam a votar uma coisa que se tornou muito difícil nos dias de hoje, seja pelos candidatos que se apresentam, seja pelo sistema de votação, ou seja pela própria Constituição (essa e uma revelação para outra ocasião de como os governantes manipulam o povo). continuar lendo