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19 de Abril de 2024

"Exército" da Universal preocupa religiões afro-brasileiras

Vídeo de jovens fardados, batendo continência e "prontos para batalha" causa temor de violência religiosa. Para analistas, Gladiadores do Altar é sobretudo uma arma para atrair jovens

há 9 anos

Por Deutsche Welle

Num vídeo de grande repercussão na internet, jovens vestidos com uma farda semelhante às usadas por militares marcham, batem continência, gritam palavras de ordem e se dizem prontos para a batalha. Só que as imagens não são de um treinamento do Exército, mas do grupo Gladiadores do Altar, criado pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) com a declarada intenção de atrair novos pastores.

As religiões afro-brasileiras, um dos principais alvos da intolerância religiosa no Brasil, mostraram-se preocupadas com o que viram e pediram a abertura de investigações ao Ministério Público Federal. Mas, segundo especialistas, a criação do Gladiadores do Altar visa sobretudo chamar a atenção para a Universal, que perde fiéis em meio a uma acirrada disputa no "mercado" das religiões.

"A criação do grupo é uma forma de atrair jovens, principalmente da periferia, para engajá-los e inseri-los na igreja, oferecendo-lhes uma mobilização militarizada", afirma o professor de ciências da religião Leonildo Silveira Campos, da Universidade Mackenzie. "Acho que é mais um golpe de marketing da IURD para se manter dentro da mídia, criando fatos inusitados."

Ele cita, como exemplos, o caso do pastor que deu um chute numa estátua de Nossa Senhora de Aparecida em 1995; a inauguração do megatemplo de Salomão, em São Paulo; e, agora, a criação do Gladiadores do Altar.

O professor de sociologia da religião Edin Abumanssur, da PUC-SP, também vê na fundação do Gladiadores uma tentativa da Universal de melhor sua posição no mercado de religiões no Brasil, no qual a disputa é cada vez mais acirrada. "As religiões pentecostais têm crescido num ritmo menos acentuado do que na década passada. Isso pode ser uma resposta à perda de fiéis."

Na década passada, o segmento religioso dos evangélicos foi o que mais cresceu, passando de 15,4% da população para 22,2%, segundo o IBGE. Isso equivale a um aumento de 16 milhões no número de adeptos, que chegou a 42,3 milhões em todo o país. Só que, mesmo com esse enorme aumento, a Universal encolheu, perdendo 229 mil fiéis entre 2000 e 2010. A igreja fundada pelo bispo Edir Macedo é a terceira entre as evangélicas pentecostais, atrás da Assembleia de Deus, com 12,3 milhões de fiéis, e da Congregação Cristã do Brasil, com 2,2 milhões. A Universal tem 1,87 milhão.

Para conter a saída de fiéis, a Universal tem feitos grandes investimentos na compra de horários em redes de televisão, numa tentativa de tirar espaço do pastor Valdemiro Santiago, o líder da Igreja Mundial do Poder de Deus. Fundada em 1990 por Santiago, depois de ele deixar a Universal, a Igreja Mundial do Poder de Deus apareceu pela primeira vez na lista de igrejas de IBGE em 2010, com 315 mil seguidores. Boa parte deles é oriunda da Universal.

Temor de intolerância religiosa

As religiões afro-brasileiras temem, porém, que o Gladiadores do Altar possa resultar num aumento dos casos de intolerância religiosa no país. Esse temor se fundamenta na aparência de milícia paramilitar que o vídeo difundido na internet transmite. Em 23 de março, representantes do candomblé e da umbanda entregaram ao Ministério Público Federal, em 26 estados, um pedido de abertura de inquérito civil para investigar possíveis casos de intolerância religiosa. A ação, segundo as lideranças do movimento, em entrevista ao jornal O Globo, é uma reação ao Gladiadores do Altar.

"Fizemos esse ato como uma reação. A criação do grupo Gladiadores do Altar, que parece até uma milícia, ganha uma relevância maior dentro de um contexto de perseguição. O discurso de fundo da Universal é intolerante", afirmou Márcio Alexandre, coordenador de política institucional do Coletivo de Entidades Negras. Para ele, no cerne da teoria pentecostal está a ideia de uma guerra invisível, na qual cabe às igrejas pentecostais salvar as pessoas do que consideram um mal. "Se a linguagem deles é de guerra, a prática também pode ser", afirmou ao jornal carioca.

O pano de fundo dessa apreensão são atos de intolerância religiosa, principalmente contra as religiões afro-brasileiras, como a Umbanda e o Candomblé. Entre os casos registrados pelo Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos, está a invasão de terreiros em Olinda, onde evangélicos exibindo faixas e gritando palavras de ordem também realizaram um protesto em frente a um terreiro; ou ainda o uso, por uma igreja, de imagens de mães-de-santo, "chamando de feitiçaria e difundindo o ódio pelas redes sociais", segundo denunciantes.

Para o professor de sociologia Gedeon Freire de Alencar, da Faculdade Batista, o Gladiadores do Altar tem um nome ruim e foi lançado num momento inadequado, marcado por conflitos religiosos protagonizados pelo "Estado Islâmico" e pelo Boko Haram. "Há muitas músicas de guerra dentro das igrejas. Há uma questão ideológica e simbólica que as igrejas estão em luta contra o mal, satanás e o pecado. Essa discussão sempre existiu" , comenta. "E qualquer coisa que a Universal fizer será mal vista por outros grupos, mesmo que outras igrejas já tenham feito o mesmo."

O Ministério Público Federal na Bahia (MPF-BA) anunciou que vai instaurar inquérito civil com base na representação contra a intolerância religiosa protocolada por representantes de religiões de matriz africana. De acordo com o MPF-BA, nada impede o MPF-SP de também iniciar investigações, já que a sede da Universal fica em São Paulo.

Por meio de nota, a IURD afirmou que reitera o seu apreço pelos seguidores de todas as religiões e que o projeto Gladiadores do Altar se resume a um programa de ensino religioso totalmente pacífico. Segundo o documento, a "falsa polêmica" é fruto de um lamentável mal-entendido surgido na internet e alimentado pelo "desconhecimento de muitos" e pelo "preconceito de alguns".

"O projeto visa nada mais que a formação de jovens vocacionados para o trabalho pastoral. Não há disciplina militar, não existe atividade física envolvida e jamais houve – nem nunca haverá – incitação à violência ou ódio a qualquer religião", afirma a nota. A Igreja destaca ainda que o Ministério Público do Ceará avaliou que "não vislumbra um movimento armado ou com conotação de milícia no vídeo apresentado" e pediu respeito ao direito constitucional de liberdade de culto e de expressão da Universal.

"A Universal está à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o programa e reafirma o respeito aos fiéis de todas as religiões, em cada um dos mais de cem países onde está presente", diz a nota. "Aguardamos igual consideração por nossas crenças e convicções."


Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/exercito-da-igreja-universal-preocupa-religioes-afro-brasil...

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4 Comentários

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Boa tarde, senhores (as). Tema interessante. continuar lendo

Alguém me mostre uma lei proibindo praticar ordem unida?

A igreja adventista e os escoteiros praticam há anos! continuar lendo

Boa tarde. Dialoguei com membros desse grupo "perigoso", os "gladiadores do altar" e aqui estão as minhas impressões:
1 - Não é um grupo paramilitar : não possuem armas ou liderança que incite à violência; 2 - Não são violentos : são bastante educados, não obstante originarem-se de classes mais pobres; 3 - Não incitam à violência, apenas convidam a reuniões de oração, principalmente às sextas-feiras,e segundo dizem, nessas reuniões (ou cultos) podem ocorrer manifestações e expulsões de "espíritos malignos" (como descrito na bíblia na parte do testamento); 4 - Não notei sinais de proselitismo ou intolerância em relação à outras religiões, tais como as de cunho africano, dizem respeitar qualquer religião.
Minha opinião é que eles são um grupo organizado, pacífico e destinado a aumentar o número de fiéis dessa igreja. Pode ser que estejam incomodando outras religiões à medida que quebram paradigmas religiosos brasileiros, e conseguem agregar mais pessoas. Procure dialogar com esses caras para tirar suas impressões. Até o momento não vejo necessidade alguma de provocar a Jurisdição, pois como disse muito bem certo sábio: "Se as divindades se sentem ofendidas, que elas mesmas se defendam, e questões de crenças em seres invisíveis não se tornem uma lide". continuar lendo

Sinceramente não sei se essa reportagem é um marketing da Universal ou um blefe. Está na constituição o livre credo, não estamos em um país onde o radicalismo impera. O catolicismo foi implantado no Brasil na época de seu descobrimento, o camdombé surgiu com o advento dos africanos que vieram escravizados para trabalhar no pais..A religião afro tem vários desdobramentose o número deseguidores dessa religião não é pequena, Temos a umbamba, a quimbanda e espiritismo (cujo codificador foi Allan Kardec). Mas essas religiões que têm surgido, a intenção da polêmica e tentar mostrar aos incautos que eles são melhores, poderosos e com isso arregimentar mais pessoas para praticarem sua crença..Tanto que Igrejas pentecostais dissemiram no Brasil num volunme astronômico, sempre protendo uma vida melhor e financeiramente equilibrada.
Não acredito que esses "patrulheiros;" evangélicos estão se preparando para caça aos
adetos do camdomblé, rimeiro até para atacarum grupo social, é necessário estratégias, e povo condicionado, bitolado, nem sabe penar por si próprio.Essa informação não me assusta, tenho é pena de quem se deixa manipular, seja pela imprensa, elos políticos e até por religiões. continuar lendo